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Programação com Posix Threads

 

 

Revisão: 29-04-2025

 


Programação multi-threaded com Pthreads

 

 

9.1. O que é uma thread?

 

Um processo represente a execução pelo sistema operativo dum programa. Uma thread represente uma linha de execução das instruções deste programa. Um processo poderá conter várias threads, pelo menos uma. O comando Unix ps permite ver os processos que estão a correr e dando a opção correcta as threads que estão a executar. O comando top também é útil para obter uma lista ordenado dos processos. Pode também utilizar as ferramentas gráficas (process explorer, system monitor etc.) e ligar a opção para ver as threads.

  

9.2. O que são  Pthreads?

 

Historicamente cada sistema operativo/hardware implementava a sua própria versão de threads. Claro que cada implementação varia entre si portanto era difícil para programadores de desenvolver aplicações portáveis que utilizassem threads. Para superar estas dificuldades a padrão POSIX1003.1-2001 foi desenvolvida. Esta define um application programming interface (API) para a escrita de aplicações multithreaded. Implementações de threads que aderem a este padrão são conhecidas como POSIX threads ou simplesmente pthreads.

 

·        Pthreads são definidas como um conjunto de tipos de dados em C e um conjunto de rotinas.

·        O “API” Pthreads  contêm mais de 60 sub-rotinas.

·        Todos os identificadores na biblioteca começam com pthread_

·        O ficheiro pthread.h tem que ser incluído em cada ficheiro de código fonte.

·        A linkagem com qualquer biblioteca dinamica/estatica necessária é feita conforme o sistema.

 

9.3. thread Criação e Terminação

 

Quando um programa começa a executar terá um processo com uma thread a executar. Mais threads são depois criadas com a função pthread_create() e destruídas com a função pthread_exit().

 

Exemplo 9.1  Pthread Criação e Terminação

 

#include <stdio.h>       /* standard I/O routines                 */
#include <pthread.h>     /* pthread functions and data structures */
 
/* function to be executed by the new thread */
void *OLA(void *argumentos)    {
   printf("\nOla\n");
   pthread_exit(NULL);
}
 
int main ( ) 
{
   pthread_t thread;
   int flag, i;
   
   printf("A criar uma nova thread\n");
   flag = pthread_create(&thread, NULL, OLA, NULL);
   if (flag!=0) printf("Erro na criação duma nova thread\n");
   
   OLA(NULL);
   pthread_exit(NULL);
   return 0;   /* O programa não vai chegar aqui.         */ 
}

 


Notas Explicativas:

A chamada à função pthread_create() tem quatro argumentos. O primeiro é usado para guardar informação sobre a thread criada. O segundo especifica algumas propriedades da thread a criar, utilizaremos o valor NULL para significar os valores por defeito. O Terceiro é a função que a nova thread vai executar e o último é usado para representar argumentos a esta função.

 

A chamada à função pthread_exit() provoca a terminação do próprio thread e a libertação dos recursos que esta está a consumir. Aqui não há realmente necessidade para usar esta função porque quando a função da thread termine a thread será destruída. A função é apenas útil se for necessário destruir a thread no meio da sua execução.

 

A função a ser executada por uma nova thread tem sempre o seguinte protótipo:

 

               void * funcao ( void * argumentos ) ;

 

Exercício 9.1

 

Escreve o programa do exemplo 9.1. Compile o programa (cc –Wall -o criar criar.c -lpthread) e depois executá-lo. Quantos threads são criados? Quantas mensagens aparecem no ecrã ?

 

9.4. Esperando pela Terminação duma Thread

 

As threads podem executar duma forma desunidas (detached) da thread que as criou ou unidas. Desta maneira usando a rotina pthread_join() uma thread pode esperar pela terminação duma thread específica.

 

Exemplo 9.2 Esperando uma thread

 

#include <stdio.h>       
#include <pthread.h>
  
#ifndef NUM_THREADS
#define NUM_THREADS 5
#endif
 
void *funcao(void *argumentos)
{
   printf("\nOLA\n");
   return (NULL);
}
 
int main ()
{
  pthread_t threads[NUM_THREADS];
  int i;
 
  for(i=0;i<NUM_THREADS;i++)
       pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, NULL);
 
  printf("Thread principal a esperar a criação das threads\n");
  
  for(i=0;i<NUM_THREADS;i++)
      pthread_join(threads[i],NULL);  /* Esperar a junção das threads */ 
  
return 0;   /* O programa chegará aqui. */ 
}

 

Exercício 9.2

            Escrever, Compilar e Executar o programa do exemplo 9.2.

            cc -Wall -o ex92 ex92.c -lpthread

            cc -Wall -o ex92 ex92.c -lpthread -D NUM_THREADS=20

Exercício 9.3

 

·        Neste exercício vai escrever um programa que possa parar num determinado ponto para depois inspecionar as threads criadas usando as ferramentas do sistema (ps, activity monitor etc.). Ver código  em baixo.

·        Usando como base o exemplo 9.2 escreve um programa multithreaded onde as threads criadas pela thread principal entrarão num ciclo enquanto o valor duma variável global, x, seja igual ao valor 1.

·        O programa deverá declarar e inicializar a variável global x com valor 1.

·        Na thread principal depois de criar as threads pede o novo valor de x usando por exemplo scanf.

 


void * funcao(void *args)
{

 
 
 
  while (1==x)
     ;/*fazer nada(spin)*/
  printf("\nOla\n");
  return (NULL);
}

 

int x=1;

main() {

  for...pthread_create( funcao );

  printf("Introduza novo Valor de x.");

  scanf("%d",&x);

  for...pthread_join();


 

(i)     Compilar e Executar o programa.

(ii)   Executar o programa - mas na altura de efetuar a introdução dum novo valor de x parar o programa com ctrl-z e depois inspecionar o processo e as suas threads usando o comando ps e/ou o comando top e as opções apropriadas.

(iii)  Por o processo novamente a correr (usando os comandos de job control : jobs, fg, o comando kill etc.). Numa outra janela de terminal inspecione as threads do processo e os seus estados usando os comandos ps/top/activity monitor etc.  p.ex “ps -alT | grep myprogram”

 

               Nota: Podem ser úteis as opções A,l,m,M,T do comando ps

 

9.5. Passagem de Argumentos para threads

 

·        A rotina pthread_create() permite ao programador passar apenas um argumento a rotina da thread nova.

·        Um argumento é passado por referencia (apontador) e é feito um cast para (void *).

·        Para ‘passar’ vários argumentos temos que empacotar os valores numa estrutura (um bloco do memoria contigua) e depois passar o endereço desta estrutura.

 

Exemplos 9.3 –(I) Passagem dum Inteiro (II) uma String (III) duma estrutura

 

I. Passagem dum inteiro

 

 int x=5;

 

pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, (void*)&x);
 
void * funcao ( void * argumentos ){
    int valor =  * (int *) argumentos;
    printf("recebi um inteiro: %d \n", valor );
}

 

II. Passagem duma String

 

char mesg[ ]=”Ola”;

 

pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, (void*)mesg);
 
void * funcao ( void * argumentos ){
    char *message = (char *) argumentos ;
    printf(" %s ", message );
}

III. Passagem de múltiplos parâmetros usando uma estrutura

 

tyypedef struct { int a; float b; } ST;

ST v;

 

v.a = 5;   v.b = 2.5;  //atribuir valores

 

pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, (void*)&v);  //passer para a thread
 
void * funcao ( void * argumentos ){
    ST * in =  (ST *) argumentos ;
    printf("recebi dois valores: %d %f ", in->a, in->b );
}
 

9.6. Condições de Corrida na Passagem de Argumentos para threads

 

Existe uma dificuldade adicional em relação a passagem de dados para as novas threads.  Dado a sua inicialização não-determinística e dificuldade de controlar o escalonamento e despacho das threads será assim difícil assegurar a passagem de dados com segurança, sem condições de corrida.

Muitas vezes precisamos de identificar as threads para as depois controlar, e, portanto, será passado uma variável inteiro para as identificar. O exemplo seguinte ilustre a dificuldade e perigo deste processo.

 

Exemplo 9.4   O ficheiro test1.c

#define NUM_THREADS 5
 
void *funcao(void *args)
{
   //sleep( rand()%3);
   int id = *(int *)args;
   printf("Thread %d\n",id);
   return (NULL);
}
 
int main ()
{
  pthread_t threads[NUM_THREADS];
  int i,j;
  for(i=0;i< NUM_THREADS;i++)
       pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, &i);
 
  for(j=0;j< NUM_THREADS;j++)
      pthread_join(threads[j],NULL);
  return 0;   
}

 

Gostávamos de obter um “id” diferente pra cada thread, quer dizer os valores “Thread 0,Thread 1, Thread 2, Thread 3, Thread 4” impressos no ecrã numa ordem qualquer. No entanto observe agora em baixo alguns outputs típicos de execução do programa:

 


alunos: $ cc -o test1 test1.c -lpthread


alunos: $ ./test1

Thread 2

Thread 2

Thread 2

Thread 5

Thread 3
alunos: $ ./test1

Thread 0

Thread 1

Thread 2

Thread 4

Thread 4


alunos: $ ./test1

Thread 4

Thread 4

Thread 3

Thread 3

Thread 3

 


Exercício 9.4 (i)  Escreve, Compile e Execute o programa “test1” com mais threads e com e sem o sleep !


9.7. A Passagem Correta dos argumentos para identificar uma thread.

 

A maneira correta é passar um endereço para uma variável que identifique unicamente apenas uma thread e é usada exclusivamente por apenas uma thread .. vejam  e estudam o próximo exemplo.

Exemplo 9.5   O ficheiro test2.c

void *funcao(void *args)
{
   int id = *(int *)args;
   printf("Thread %d\n", id);
   return (NULL);
}
int main ()
{
  pthread_t threads[NUM_THREADS];
  int i,j,ids[NUM_THREADS];
 
  for (i = 0; i < NUM_THREADS; i++) ids[i]=i;
  
  for(i=0;i < NUM_THREADS;i++)
       pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, &ids[i]);
 
  for(int j=0;j < NUM_THREADS;j++) 
       pthread_join(threads[j],NULL);
   return 0 ; 
 }

 

Ouputs Corretos de execução do programa são agora mostrados


alunos: $ ./test2

Thread 1

Thread 0

Thread 2

Thread 3

Thread 4


alunos: $ ./test2

Thread 0

Thread 1

Thread 2

Thread 4

Thread 3


 

Desta maneira podemos controlar o fluxo de cada thread dentro da função da thread usando instruções de condição (if,switch etc).

 

Exercício 9.4 (ii) :Escreve, Compile e Execute os programas “test2.” Do exemplo 9.5 em cima.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma alternativa ao array estaticamente decalarada é usar malloc (cuidado aqui com a memória alocada e “memory leeks” e free() ).

int *id;
for(i=0; i < NUM_THREADS;i++)  {
    id = (int *)malloc(sizeof(int));
    *id = i;
    pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, id);
}
 
Onde deve ser feita a libertação da memoria allocada pelo malloc() ??
free(id) ?? 
Resposta: a instrução free() deverá ser colocada dentro da nova thread depois de ter usado o valor i.e dentro da função
 

Exemplo 9.6  

O ficheiro test3.c

Programa tem memory leak

void *funcao(void *args)
{
   int id = *(int *)args;
   /*  */
   printf("Thread %d\n", id);
   return (NULL);
}
int main ()
{
  pthread_t threads[NUM_THREADS];
  int i,j
  
   for(i=0;i < NUM_THREADS;i++)  {
     int * ptrId = (int *)malloc(sizeof(int));
     *ptrId = i;
     pthread_create(&threads[i], NULL, funcao, ptrId );
     //free(ptrId) // aqui é um erro. Pode experimentar !
  }
 
   for(j=0; j < NUM_THREADS;j++) 
       pthread_join(threads[j],NULL);
   return 0 ; 
 }

 

Static Analyser

               P.ex splint  sudo apt install splint

               splint test3.c  -preproc

 

Dynamic Analyser

               P.ex valgrind   sudo apt  install valgrind

               valgrind test3

Ambas das ferramentas detetem o memory leak.

Para remover o “memory leak” substituir /*  */ por free( (int*)args)


 

Exercícios Propostos

Exercício 9.5

 

Escreve um Programa multithreaded para calcular o valo da função y=sin3(x)+√cos(x).

 

Deverá criar duas threads novas, uma para calcular f1=sin3(x) e uma segunda para calcular f2=√cos(x).

A thread principal deverá depois calcular o valor final (f1+f2) depois de terminação e junção das duas threads.

Implementação: Passar o valor de x (um double) para cada thread através do argumento da thread e declarar as variáveis f1 e f2 como variáveis globais. 

Exercício 9.6

 

Escrever, Compilar e Executar um Programa multithreaded para calcular o produto de duas matrizes quadrados de dimensão dois.

 

Deverá criar quatro threads novas, cada uma usada para calcular cada um dos quarto elementos de matriz resultante.

 

Poderá usar as estruturas de dados em baixo !

       int m1[2][2]={1,2,3,4}, m2[2][2]={3,4,7,8}, mproduto[2][2].

 

Implementação:

1. Pode criar 4 funções diferentes (uma para cada elemento da Matriz)

2. Pode criar apenas uma função geral e passar um argumento ID = 0,1,2,3\/4

 

Exercício 9.7

Fazer um programa para matrizes de tamanho N^2 com N^2 threads.

Cada thread terá um id= {0...n*n-1} e calcular o elemento da matriz resultante com linha=id/N  e coluna=id%N

 

 

 

Problemas com Exclusão Mútua

 

Exercício 9.8

 

Escrever, Compilar e Executar um Programa multithreaded com duas threads onde uma thread incremente o valor duma variável global “saldo” por um valor passado como argumento e a segunda thread decremente o saldo por outro valor também passado como argumento.

 

Faça o programa sem e com uma primitiva de exclusão mútua.

 

Exercício 9.9

 

Escrever, Compilar e Executar um Programa multithreaded para calcular a soma dum vetor.

 

Criar um vetor de inteiros do tamanho N*P, onde P é o número de Threads e N um valor

Por exemplo com 5 threads e N = 10 temos um vetor de 50 valores.

Pode inicializar o vetor com valores 0,1,2….. 49 (N*P-1)

Calcular a soma usando P threads onde cada thread deve calcular uma soma parcial e a soma global deverá ser atualizado dentro da cada thread usando exclusão mútua.

Pode verificar se a soma está correta ou não usando a fórmula de Gauss.