ACTOS DOS APOSTOLOS 

CAPITULOS

1 a 7
8 a 14
15 a 28


Capitulo 15

1 Entäo alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmäos: Se näo vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, näo podeis salvar-vos.
2 Tendo tido Paulo e Barnabé näo pequena discussäo e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciäos, sobre aquela questäo.
3 E eles, sendo acompanhados pela igreja, passavam pela Fenícia e por Samaria, contando a conversäo dos gentios; e davam grande alegria a todos os irmäos.
4 E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciäos, e lhes anunciaram quäo grandes coisas Deus tinha feito com eles.
5 Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés.
6 Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciäos para considerar este assunto.
7 E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmäos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem.
8 E Deus, que conhece os coraçöes, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós;
9 E näo fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus coraçöes pela fé.
10 Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11 Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.
12 Entäo toda a multidäo se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quäo grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios.
13 E, havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: Homens irmäos, ouvi-me:
14 Simäo relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome.
15 E com isto concordam as palavras dos profetas; como está escrito:
16 Depois disto voltarei, E reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, Levantá-lo-ei das suas ruínas, E tornarei a edificá-lo.
17 Para que o restante dos homens busque ao Senhor, E todos os gentios, sobre os quais o meu nome é invocado, Diz o Senhor, que faz todas estas coisas,
18 Conhecidas säo a Deus, desde o princípio do mundo, todas as suas obras.
19 Por isso julgo que näo se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus.
20 Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminaçöes dos ídolos, da prostituiçäo, do que é sufocado e do sangue.
21 Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas.
22 Entäo pareceu bem aos apóstolos e aos anciäos, com toda a igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os irmäos.
23 E por intermédio deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os anciäos e os irmäos, aos irmäos dentre os gentios que estäo em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde.
24 Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras, e transtornaram as vossas almas, dizendo que deveis circuncidar-vos e guardar a lei, näo lhes tendo nós dado mandamento,
25 Pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo,
26 Homens que já expuseram as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27 Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais por palavra vos anunciaräo também as mesmas coisas.
28 Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, näo vos impor mais encargo algum, senäo estas coisas necessárias:
29 Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituiçäo, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.
30 Tendo eles entäo se despedido, partiram para Antioquia e, ajuntando a multidäo, entregaram a carta.
31 E, quando a leram, alegraram-se pela exortaçäo.
32 Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmäos com muitas palavras.
33 E, detendo-se ali algum tempo, os irmäos os deixaram voltar em paz para os apóstolos;
34 Mas pareceu bem a Silas ficar ali.
35 E Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a palavra do Senhor.
36 E alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmäos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estäo.
37 E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a Joäo, chamado Marcos.
38 Mas a Paulo parecia razoável que näo tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e näo os acompanhou naquela obra.
39 E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.
40 E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmäos à graça de Deus.
41 E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas.


Capitulo 16

1 E chegou a Derbe e Listra. E eis que estava ali um certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego;
2 Do qual davam bom testemunho os irmäos que estavam em Listra e em Icónio.
3 Paulo quis que este fosse com ele; e tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.
4 E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciäos em Jerusalém.
5 De sorte que as igrejas eram confirmadas na fé, e cada dia cresciam em número.
6 E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Asia.
7 E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito näo lho permitiu.
8 E, tendo passado por Mísia, desceram a Tróade.
9 E Paulo teve de noite uma visäo, em que se apresentou um homem da Macedónia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedónia, e ajuda-nos.
10 E, logo depois desta visäo, procuramos partir para a Macedónia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho.
11 E, navegando de Tróade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis;
12 E dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedónia, e é uma colónia; e estivemos alguns dias nesta cidade.
13 E no dia de sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer oraçäo; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram.
14 E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coraçäo para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.
15 E, depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali. E nos constrangeu a isso.
16 E aconteceu que, indo nós à oraçäo, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhaçäo, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores.
17 Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvaçäo, säo servos do Deus Altíssimo.
18 E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu.
19 E, vendo seus senhores que a esperança do seu lucro estava perdida, prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça, à presença dos magistrados.
20 E, apresentando-os aos magistrados, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade,
21 E nos expöem costumes que näo nos é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos.
22 E a multidäo se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los com varas.
23 E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisäo, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança.
24 O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco.
25 E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam.
26 E de repente sobreveio um täo grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisöes de todos.
27 E, acordando o carcereiro, e vendo abertas as portas da prisäo, tirou a espada, e quis matar-se, cuidando que os presos já tinham fugido.
28 Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Näo te faças nenhum mal, que todos aqui estamos.
29 E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas.
30 E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?
31 E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.
32 E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa.
33 E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergöes; e logo foi batizado, ele e todos os seus.
34 E, levando-os à sua casa, lhes pós a mesa; e, na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa.
35 E, sendo já dia, os magistrados mandaram quadrilheiros, dizendo: Soltai aqueles homens.
36 E o carcereiro anunciou a Paulo estas palavras, dizendo: Os magistrados mandaram que vos soltasse; agora, pois, saí e ide em paz.
37 Mas Paulo replicou: Açoitaram-nos publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na prisäo, e agora encobertamente nos lançam fora? Näo será assim; mas venham eles mesmos e tirem-nos para fora.
38 E os quadrilheiros foram dizer aos magistrados estas palavras; e eles temeram, ouvindo que eram romanos.
39 E, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade.
40 E, saindo da prisäo, entraram em casa de Lídia e, vendo os irmäos, os confortaram, e depois partiram.


Capitulo 17

1 E passando por Anfípolis e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde havia uma sinagoga de judeus.
2 E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras,
3 Expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo.
4 E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidäo de gregos religiosos, e näo poucas mulheres principais.
5 Mas os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo.
6 E, näo os achando, trouxeram Jasom e alguns irmäos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui;
7 Os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus.
8 E alvoroçaram a multidäo e os principais da cidade, que ouviram estas coisas.
9 Tendo, porém, recebido satisfaçäo de Jasom e dos demais, os soltaram.
10 E logo os irmäos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
11 Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalónica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.
12 De sorte que creram muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e näo poucos homens.
13 Mas, logo que os judeus de Tessalónica souberam que a palavra de Deus também era anunciada por Paulo em Beréia, foram lá, e excitaram as multidöes.
14 No mesmo instante os irmäos mandaram a Paulo que fosse até ao mar, mas Silas e Timóteo ficaram ali.
15 E os que acompanhavam Paulo o levaram até Atenas, e, recebendo ordem para que Silas e Timóteo fossem ter com ele o mais depressa possível, partiram.
16 E, enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade täo entregue à idolatria.
17 De sorte que disputava na sinagoga com os judeus e religiosos, e todos os dias na praça com os que se apresentavam.
18 E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreiçäo.
19 E tomando-o, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas?
20 Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos; queremos, pois, saber o que vem a ser isto
21 (Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senäo de dizer e ouvir alguma novidade).
22 E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos;
23 Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, näo o conhecendo, é o que eu vos anuncio.
24 O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, näo habita em templos feitos por mäos de homens;
25 Nem tampouco é servido por mäos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiraçäo, e todas as coisas;
26 E de um só sangue fez toda a geraçäo dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitaçäo;
27 Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que näo está longe de cada um de nós;
28 Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geraçäo.
29 Sendo nós, pois, geraçäo de Deus, näo havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginaçäo dos homens.
30 Mas Deus, näo tendo em conta os tempos da ignoráncia, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam;
31 Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
32 E, como ouviram falar da ressurreiçäo dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez.
33 E assim Paulo saiu do meio deles.
34 Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dámaris, e com eles outros.


Capitulo 18

1 E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto.
2 E, achando um certo judeu por nome Aqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles,
3 E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas.
4 E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos.
5 E, quando Silas e Timóteo desceram da Macedónia, foi Paulo impulsionado no espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo.
6 Mas, resistindo e blasfemando eles, sacudiu as vestes, e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora parto para os gentios.
7 E, saindo dali, entrou em casa de um homem chamado Tício Justo, que servia a Deus, e cuja casa estava junto da sinagoga.
8 E Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados.
9 E disse o Senhor em visäo a Paulo: Näo temas, mas fala, e näo te cales;
10 Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mäo de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.
11 E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
12 Mas, sendo Gálio procónsul da Acaia, levantaram-se os judeus concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal,
13 Dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei.
14 E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razäo vos sofreria,
15 Mas, se a questäo é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu näo quero ser juiz dessas coisas.
16 E expulsou-os do tribunal.
17 Entäo todos os gregos agarraram Sóstenes, principal da sinagoga, e o feriram diante do tribunal; e a Gálio nada destas coisas o incomodava.
18 E Paulo, ficando ainda ali muitos dias, despediu-se dos irmäos, e dali navegou para a Síria, e com ele Priscila e Aqüila, tendo rapado a cabeça em Cencréia, porque tinha voto.
19 E chegou a Éfeso, e deixou-os ali; mas ele, entrando na sinagoga, disputava com os judeus.
20 E, rogando-lhe eles que ficasse por mais algum tempo, näo conveio nisso.
21 Antes se despediu deles, dizendo: É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém; mas querendo Deus, outra vez voltarei a vós. E partiu de Éfeso.
22 E, chegando a Cesaréia, subiu a Jerusalém e, saudando a igreja, desceu a Antioquia.
23 E, estando ali algum tempo, partiu, passando sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia, confirmando a todos os discípulos.
24 E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras.
25 Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de Joäo.
26 Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Aqüila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.
27 Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmäos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam.
28 Porque com grande veemência, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo.


Capitulo 19

1 E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo passado por todas as regiöes superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos,
2 Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.
3 Perguntou-lhes, entäo: Em que sois batizados entäo? E eles disseram: No batismo de Joäo.
4 Mas Paulo disse: Certamente Joäo batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.
5 E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus.
6 E, impondo-lhes Paulo as mäos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.
7 E estes eram, ao todo, uns doze homens.
8 E, entrando na sinagoga, falou ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus.
9 Mas, como alguns deles se endurecessem e näo obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidäo, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano.
10 E durou isto por espaço de dois anos; de tal maneira que todos os que habitavam na Asia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos.
11 E Deus pelas mäos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias.
12 De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam.
13 E alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus a quem Paulo prega.
14 E os que faziam isto eram sete filhos de Ceva, judeu, principal dos sacerdotes.
15 Respondendo, porém, o espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo; mas vós quem sois?
16 E, saltando neles o homem que tinha o espírito maligno, e assenhoreando-se de todos, póde mais do que eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa.
17 E foi isto notório a todos os que habitavam em Éfeso, tanto judeus como gregos; e caiu temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
18 E muitos dos que tinham crido vinham, confessando e publicando os seus feitos.
19 Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinqüenta mil peças de prata.
20 Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia.
21 E, cumpridas estas coisas, Paulo propós, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma.
22 E, enviando à Macedónia dois daqueles que o serviam, Timóteo e Erasto, ficou ele por algum tempo na Asia.
23 E, naquele mesmo tempo, houve um näo pequeno alvoroço acerca do Caminho.
24 Porque um certo ourives da prata, por nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava näo pouco lucro aos artífices,
25 Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade;
26 E bem vedes e ouvis que näo só em Éfeso, mas até quase em toda a Asia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidäo, dizendo que näo säo deuses os que se fazem com as mäos.
27 E näo somente há o perigo de que a nossa profissäo caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada, vindo a ser destruída a majestade daquela que toda a Asia e o mundo veneram.
28 E, ouvindo-o, encheram-se de ira, e clamaram, dizendo: Grande é a Diana dos efésios.
29 E encheu-se de confusäo toda a cidade e, unánimes, correram ao teatro, arrebatando a Gaio e a Aristarco, macedónios, companheiros de Paulo na viagem.
30 E, querendo Paulo apresentar-se ao povo, näo lho permitiram os discípulos.
31 E também alguns dos principais da Asia, que eram seus amigos, lhe rogaram que näo se apresentasse no teatro.
32 Uns, pois, clamavam de uma maneira, outros de outra, porque o ajuntamento era confuso; e os mais deles näo sabiam por que causa se tinham ajuntado.
33 Entäo tiraram Alexandre dentre a multidäo, impelindo-o os judeus para diante; e Alexandre, acenando com a mäo, queria dar razäo disto ao povo.
34 Mas quando conheceram que era judeu, todos unanimemente levantaram a voz, clamando por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios.
35 Entäo o escriväo da cidade, tendo apaziguado a multidäo, disse: Homens efésios, qual é o homem que näo sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana, e da imagem que desceu de Júpiter?
36 Ora, näo podendo isto ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente;
37 Porque estes homens que aqui trouxestes nem säo sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa.
38 Mas, se Demétrio e os artífices que estäo com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procónsules; que se acusem uns aos outros;
39 E, se alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítima assembléia.
40 Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sediçäo, näo havendo causa alguma com que possamos justificar este concurso.
41 E, tendo dito isto, despediu a assembléia.


Capitulo 20

1 E, depois que cessou o alvoroço, Paulo chamou a si os discípulos e, abraçando-os, saiu para a Macedónia.
2 E, havendo andado por aquelas terras, exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia.
3 E, passando ali três meses, e sendo-lhe pelos judeus postas ciladas, como tivesse de navegar para a Síria, determinou voltar pela Macedónia.
4 E acompanhou-o, até à Asia, Sópater, de Beréia, e, dos de Tessalónica, Aristarco, e Segundo, e Gaio de Derbe, e Timóteo, e, dos da Asia, Tíquico e Trófimo.
5 Estes, indo adiante, nos esperaram em Tróade.
6 E, depois dos dias dos päes ázimos, navegamos de Filipos, e em cinco dias fomos ter com eles a Tróade, onde estivemos sete dias.
7 E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o päo, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite.
8 E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos.
9 E, estando um certo jovem, por nome Éutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto.
10 Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Näo vos perturbeis, que a sua alma nele está.
11 E subindo, e partindo o päo, e comendo, ainda lhes falou largamente até à alvorada; e assim partiu.
12 E levaram vivo o jovem, e ficaram näo pouco consolados.
13 Nós, porém, subindo ao navio, navegamos até Assós, onde devíamos receber a Paulo, porque assim o ordenara, indo ele por terra.
14 E, logo que se ajuntou conosco em Assós, o recebemos, e fomos a Mitilene.
15 E, navegando dali, chegamos no dia seguinte defronte de Quios, e no outro aportamos a Samos e, ficando em Trogílio, chegamos no dia seguinte a Mileto.
16 Porque já Paulo tinha determinado passar ao largo de Éfeso, para näo gastar tempo na Asia. Apressava-se, pois, para estar, se lhe fosse possível, em Jerusalém no dia de Pentecostes.
17 E de Mileto mandou a Éfeso, a chamar os anciäos da igreja.
18 E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Asia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós,
19 Servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentaçöes, que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;
20 Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas,
21 Testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversäo a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
22 E agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, näo sabendo o que lá me há de acontecer,
23 Senäo o que o Espírito Santo de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisöes e tribulaçöes.
24 Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
25 E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de Deus, näo vereis mais o meu rosto.
26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.
28 Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.
29 Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entraräo no meio de vós lobos cruéis, que näo pouparäo ao rebanho;
30 E que de entre vós mesmos se levantaräo homens que falaräo coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.
31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, näo cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
32 Agora, pois, irmäos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.
33 De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem o vestuário.
34 Sim, vós mesmos sabeis que para o que me era necessário a mim, e aos que estäo comigo, estas mäos me serviram.
35 Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.
36 E, havendo dito isto, pós-se de joelhos, e orou com todos eles.
37 E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam,
38 Entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que näo veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até o navio.


Capitulo 21

1 E aconteceu que, separando-nos deles, navegamos e fomos correndo caminho direito, e chegamos a Cós, e no dia seguinte a Rodes, de onde passamos a Pátara.
2 E, achando um navio, que ia para a Fenícia, embarcamos nele, e partimos.
3 E, indo já à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, navegamos para a Síria e chegamos a Tiro; porque o navio havia de ser descarregado ali.
4 E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que näo subisse a Jerusalém.
5 E, havendo passado ali aqueles dias, saímos, e seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos, com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos.
6 E, despedindo-nos uns dos outros, subimos ao navio; e eles voltaram para suas casas.
7 E nós, concluída a navegaçäo de Tiro, viemos a Ptolemaida; e, havendo saudado os irmäos, ficamos com eles um dia.
8 E no dia seguinte, partindo dali Paulo, e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesaréia; e, entrando em casa de Filipe, o  evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele.
9 E tinha este quatro filhas virgens, que profetizavam.
10 E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Agabo;
11 E, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mäos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligaräo os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregaräo nas mäos dos gentios.
12 E, ouvindo nós isto, rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que näo subisse a Jerusalém.
13 Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coraçäo? Porque eu estou pronto näo só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
14 E, como näo podíamos convencê-lo, nos aquietamos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor.
15 E depois daqueles dias, havendo feito os nossos preparativos, subimos a Jerusalém.
16 E foram também conosco alguns discípulos de Cesaréia, levando consigo um certo Mna-som, cíprio, discípulo antigo, com quem havíamos de hospedar-nos.
17 E, logo que chegamos a Jerusalém, os irmäos nos receberam de muito boa vontade.
18 E no dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciäos vieram ali.
19 E, havendo-os saudado, contou-lhes por miúdo o que por seu ministério Deus fizera entre os gentios.
20 E, ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor, e disseram-lhe: Bem vês, irmäo, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos säo zeladores da lei.
21 E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estäo entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que näo devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei.
22 Que faremos pois? em todo o caso é necessário que a multidäo se ajunte; porque teräo ouvido que já és vindo.
23 Faze, pois, isto que te dizemos: Temos quatro homens que fizeram voto.
24 Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficaräo sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei.
25 Todavia, quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito, e achado por bem, que nada disto observem; mas que só se guardem do que se sacrifica aos ídolos, e do sangue, e do sufocado e da prostituiçäo.
26 Entäo Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificaçäo; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta.
27 E quando os sete dias estavam quase a terminar, os judeus da Asia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mäo dele,
28 Clamando: Homens israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a todos contra o povo e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo lugar.
29 Porque tinham visto com ele na cidade a Trófimo de Éfeso, o qual pensavam que Paulo introduzira no templo.
30 E alvoroçou-se toda a cidade, e houve grande concurso de povo; e, pegando Paulo, o arrastaram para fora do templo, e logo as portas se fecharam.
31 E, procurando eles matá-lo, chegou ao tribuno da coorte o aviso de que Jerusalém estava toda em confusäo;
32 O qual, tomando logo consigo soldados e centuriöes, correu para eles. E, quando viram o tribuno e os soldados, cessaram de ferir a Paulo.
33 Entäo, aproximando-se o tribuno, o prendeu e o mandou atar com duas cadeias, e lhe perguntou quem era e o que tinha feito.
34 E na multidäo uns clamavam de uma maneira, outros de outra; mas, como nada podia saber ao certo, por causa do alvoroço, mandou conduzi-lo para a fortaleza.
35 E sucedeu que, chegando às escadas, os soldados tiveram de lhe pegar por causa da violência da multidäo.
36 Porque a multidäo do povo o seguia, clamando: Mata-o!
37 E, quando iam a introduzir Paulo na fortaleza, disse Paulo ao tribuno: É-me permitido dizer-te alguma coisa? E ele disse: Sabes o grego?
38 Näo és tu porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sediçäo e levou ao deserto quatro mil salteadores?
39 Mas Paulo lhe disse: Na verdade que sou um homem judeu, cidadäo de Tarso, cidade näo pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo.
40 E, havendo-lho permitido, Paulo, pondo-se em pé nas escadas, fez sinal com a mäo ao povo; e, feito grande silêncio, falou-lhes em língua hebraica, dizendo:


Capitulo 22

1 Homens, irmäos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós
2 (E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram). E disse:
3 Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus, como todos vós hoje sois.
4 E persegui este caminho até à morte, prendendo, e pondo em prisöes, tanto homens como mulheres,
5 Como também o sumo sacerdote me é testemunha, e todo o conselho dos anciäos. E, recebendo destes cartas para os irmäos, fui a Damasco, para trazer maniatados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que fossem castigados.
6 Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu.
7 E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
8 E eu respondi: Quem és, Senhor? E disse-me: Eu sou Jesus Nazareno, a quem tu persegues.
9 E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito, mas näo ouviram a voz daquele que falava comigo.
10 Entäo disse eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te, e vai a Damasco, e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer.
11 E, como eu näo via, por causa do esplendor daquela luz, fui levado pela mäo dos que estavam comigo, e cheguei a Damasco.
12 E um certo Ananias, homem piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam,
13 Vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmäo, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi.
14 E ele disse: O Deus de nossos pais de antemäo te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo e ouças a voz da sua boca.
15 Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido.
16 E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.
17 E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim.
18 E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém; porque näo receberäo o teu testemunho acerca de mim.
19 E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisäo e açoitava nas sinagogas os que criam em ti.
20 E quando o sangue de Estêväo, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as capas dos que o matavam.
21 E disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.
22 E ouviram-no até esta palavra, e levantaram a voz, dizendo: Tira da terra um tal homem, porque näo convém que viva.
23 E, clamando eles, e arrojando de si as vestes, e lançando pó para o ar,
24 O tribuno mandou que o levassem para a fortaleza, dizendo que o examinassem com açoites, para saber por que causa assim clamavam contra ele.
25 E, quando o estavam atando com correias, disse Paulo ao centuriäo que ali estava: É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?
26 E, ouvindo isto, o centuriäo foi, e anunciou ao tribuno, dizendo: Vê o que vais fazer, porque este homem é romano.
27 E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim.
28 E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadäo. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento.
29 E logo dele se apartaram os que o haviam de examinar; e até o tribuno teve temor, quando soube que era romano, visto que o tinha ligado.
30 E no dia seguinte, querendo saber ao certo a causa por que era acusado pelos judeus, soltou-o das prisöes, e mandou vir os principais dos sacerdotes, e todo o seu conselho; e, trazendo Paulo, o apresentou diante deles.


Capitulo 23

1 E, pondo Paulo os olhos no conselho, disse: Homens irmäos, até ao dia de hoje tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência.
2 Mas o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca.
3 Entäo Paulo lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir?
4 E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus?
5 E Paulo disse: Näo sabia, irmäos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Näo dirás mal do príncipe do teu povo.
6 E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Homens irmäos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreiçäo dos mortos sou julgado.
7 E, havendo dito isto, houve dissensäo entre os fariseus e saduceus; e a multidäo se dividiu.
8 Porque os saduceus dizem que näo há ressurreiçäo, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa.
9 E originou-se um grande clamor; e, levantando-se os escribas da parte dos fariseus, contendiam, dizendo: Nenhum mal achamos neste homem, e, se algum espírito ou anjo lhe falou, näo lutemos contra Deus.
10 E, havendo grande dissensäo, o tribuno, temendo que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a soldadesca, para que o tirassem do meio deles, e o levassem para a fortaleza.
11 E na noite seguinte, apresentando-se-lhe o Senhor, disse: Paulo, tem ánimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma.
12 E, quando já era dia, alguns dos judeus fizeram uma conspiraçäo, e juraram, dizendo que näo comeriam nem beberiam enquanto näo matassem a Paulo.
13 E eram mais de quarenta os que fizeram esta conjuraçäo.
14 E estes foram ter com os principais dos sacerdotes e anciäos, e disseram: Conjuramo-nos, sob pena de maldiçäo, a nada provarmos até que matemos a Paulo.
15 Agora, pois, vós, com o conselho, rogai ao tribuno que vo-lo traga amanhä, como que querendo saber mais alguma coisa de seus negócios, e, antes que chegue, estaremos prontos para o matar.
16 E o filho da irmä de Paulo, tendo ouvido acerca desta cilada, foi, e entrou na fortaleza, e o anunciou a Paulo.
17 E Paulo, chamando a si um dos centuriöes, disse: Leva este jovem ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comunicar.
18 Tomando-o ele, pois, o levou ao tribuno, e disse: O preso Paulo, chamando-me a si, rogou-me que trouxesse este jovem, que tem alguma coisa para dizer-te.
19 E o tribuno, tomando-o pela mäo, e pondo-se à parte, perguntou-lhe em particular: Que tens que me contar?
20 E disse ele: Os judeus se concertaram rogar-te que amanhä leves Paulo ao conselho, como que tendo de inquirir dele mais alguma coisa ao certo.
21 Mas tu näo os creias; porque mais de quarenta homens de entre eles lhe andam armando ciladas; os quais se obrigaram, sob pena de maldiçäo, a näo comer nem beber até que o tenham morto; e já estäo apercebidos, esperando de ti promessa.
22 Entäo o tribuno despediu o jovem, mandando-lhe que a ninguém dissesse que lhe havia contado aquilo.
23 E, chamando dois centuriöes, lhes disse: Aprontai para as três horas da noite duzentos soldados, e setenta de cavalaria, e duzentos arqueiros para irem até Cesaréia;
24 E aparelhai cavalgaduras, para que, pondo nelas a Paulo, o levem salvo ao presidente Félix.
25 E escreveu uma carta, que continha isto:
26 Cláudio Lísias, a Félix, potentíssimo presidente, saúde.
27 Esse homem foi preso pelos judeus; e, estando já a ponto de ser morto por eles, sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei, informado de que era romano.
28 E, querendo saber a causa por que o acusavam, o levei ao seu conselho.
29 E achei que o acusavam de algumas questöes da sua lei; mas que nenhum crime havia nele digno de morte ou de prisäo.
30 E, sendo-me notificado que os judeus haviam de armar ciladas a esse homem, logo to enviei, mandando também aos acusadores que perante ti digam o que tiverem contra ele. Passa bem.
31 Tomando, pois, os soldados a Paulo, como lhe fora mandado, o trouxeram de noite a Antipátride.
32 E no dia seguinte, deixando aos de cavalo irem com ele, tornaram à fortaleza.
33 Os quais, logo que chegaram a Cesaréia, e entregaram a carta ao presidente, lhe apresentaram Paulo.
34 E o presidente, lida a carta, perguntou de que província era; e, sabendo que era da Cilícia,
35 Disse: Ouvir-te-ei, quando também aqui vierem os teus acusadores. E mandou que o guardassem no pretório de Herodes.


Capitulo 24

1 E, cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias desceu com os anciäos, e um certo Tértulo, orador, os quais compareceram perante o presidente contra Paulo.
2 E, sendo chamado, Tértulo começou a acusá-lo, dizendo: Visto como por ti temos tanta paz e por tua prudência se fazem a este povo muitos e louváveis serviços,
3 Sempre e em todo o lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer.
4 Mas, para que näo te detenha muito, rogo-te que, conforme a tua eqüidade, nos ouças por pouco tempo.
5 Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de sediçöes entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos;
6 O qual intentou também profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar.
7 Mas, sobrevindo o tribuno Lísias, no-lo tirou de entre as mäos com grande violência,
8 Mandando aos seus acusadores que viessem a ti; e dele tu mesmo, examinando-o, poderás entender tudo o de que o acusamos.
9 E também os judeus o acusavam, dizendo serem estas coisas assim.
10 Paulo, porém, fazendo-lhe o presidente sinal que falasse, respondeu: Porque sei que já vai para muitos anos que desta naçäo és juiz, com tanto melhor ánimo respondo por mim.
11 Pois bem podes saber que näo há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar;
12 E näo me acharam no templo falando com alguém, nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade.
13 Nem tampouco podem provar as coisas de que agora me acusam.
14 Mas confesso-te isto que, conforme aquele caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas.
15 Tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreiçäo de mortos, assim dos justos como dos injustos.
16 E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens.
17 Ora, muitos anos depois, vim trazer à minha naçäo esmolas e ofertas.
18 Nisto me acharam já santificado no templo, näo em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Asia,
19 Os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem.
20 Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante o conselho,
21 A näo ser estas palavras que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreiçäo dos mortos.
22 Entäo Félix, havendo ouvido estas coisas, lhes pós dilaçäo, dizendo: Havendo-me informado melhor deste Caminho, quando o tribuno Lísias tiver descido, entäo tomarei inteiro conhecimento dos vossos negócios.
23 E mandou ao centuriäo que o guardasse em prisäo, tratando-o com brandura, e que a ninguém dos seus proibisse servi-lo ou vir ter com ele.
24 E alguns dias depois, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo.
25 E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei.
26 Esperando ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, para que o soltasse; pelo que também muitas vezes o mandava chamar, e falava com ele.
27 Mas, passados dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo; e, querendo Félix comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.


Capitulo 25

1 Entrando, pois, Festo na província, subiu dali a três dias de Cesaréia a Jerusalém.
2 E o sumo sacerdote e os principais dos judeus compareceram perante ele contra Paulo, e lhe rogaram,
3 Pedindo como favor contra ele que o fizesse vir a Jerusalém, armando ciladas para o matarem no caminho.
4 Mas Festo respondeu que Paulo estava guardado em Cesaréia, e que ele brevemente partiria para lá.
5 Os que, pois, disse, dentre vós, têm poder, desçam comigo e, se neste homem houver algum crime, acusem-no.
6 E, havendo-se demorado entre eles mais de dez dias, desceu a Cesaréia; e no dia seguinte, assentando-se no tribunal, mandou que trouxessem Paulo.
7 E, chegando ele, rodearam-no os judeus que haviam descido de Jerusalém, trazendo contra Paulo muitas e graves acusaçöes, que näo podiam provar.
8 Mas ele, em sua defesa, disse: Eu näo pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.
9 Todavia Festo, querendo comprazer aos judeus, respondendo a Paulo, disse: Queres tu subir a Jerusalém, e ser lá perante mim julgado acerca destas coisas?
10 Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; näo fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes.
11 Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, näo recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César.
12 Entäo Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César? para César irás.
13 E, passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar Festo.
14 E, como ali ficassem muitos dias, Festo contou ao rei os negócios de Paulo, dizendo: Um certo homem foi deixado por Félix aqui preso,
15 Por cujo respeito os principais dos sacerdotes e os anciäos dos judeus, estando eu em Jerusalém, compareceram perante mim, pedindo sentença contra ele.
16 Aos quais respondi näo ser costume dos romanos entregar algum homem à morte, sem que o acusado tenha presentes os seus acusadores, e possa defender-se da acusaçäo.
17 De sorte que, chegando eles aqui juntos, no dia seguinte, sem fazer dilaçäo alguma, assentado no tribunal, mandei que trouxessem o homem.
18 Acerca do qual, estando presentes os acusadores, nenhuma coisa apontaram daquelas que eu suspeitava.
19 Tinham, porém, contra ele algumas questöes acerca da sua superstiçäo, e de um tal Jesus, morto, que Paulo afirmava viver.
20 E, estando eu perplexo acerca da inquiriçäo desta causa, disse se queria ir a Jerusalém, e lá ser julgado acerca destas coisas.
21 E, apelando Paulo para que fosse reservado ao conhecimento de Augusto, mandei que o guardassem até que o envie a César.
22 Entäo Agripa disse a Festo: Bem quisera eu também ouvir esse homem. E ele disse: Amanhä o ouvirás.
23 E, no dia seguinte, vindo Agripa e Berenice, com muito aparato, entraram no auditório com os tribunos e homens principais da cidade, sendo trazido Paulo por mandado de Festo.
24 E Festo disse: Rei Agripa, e todos os senhores que estais presentes conosco; aqui vedes um homem de quem toda a multidäo dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como aqui, clamando que näo convém que viva mais.
25 Mas, achando eu que nenhuma coisa digna de morte fizera, e apelando ele mesmo também para Augusto, tenho determinado enviar-lho.
26 Do qual näo tenho coisa alguma certa que escreva ao meu senhor, e por isso perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para que, depois de interrogado, tenha alguma coisa que escrever.
27 Porque me parece contra a razäo enviar um preso, e näo notificar contra ele as acusaçöes.


Capitulo 26

1 Depois Agripa disse a Paulo: E permitido que te defendas. Entäo Paulo, estendendo a mäo em sua defesa, respondeu:
2 Tenho-me por feliz, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus;
3 Mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questöes que há entre os judeus; por isso te rogo que me ouças com paciência.
4 Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre os da minha naçäo, em Jerusalém, todos os judeus a conhecem,
5 Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religiäo, vivi fariseu.
6 E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado.
7 Å qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus.
8 Pois quê? julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?
9 Bem tinha eu imaginado que contra o nome de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos;
10 O que também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido autorizaçäo dos principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisöes; e quando os matavam eu dava o meu voto contra eles.
11 E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.
12 Sobre o que, indo entäo a Damasco, com poder e comissäo dos principais dos sacerdotes,
13 Ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo.
14 E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhöes.
15 E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues;
16 Mas levanta-te e pöe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pór por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda;
17 Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio,
18 Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissäo de pecados, e herança entre os que säo santificados pela fé em mim.
19 Por isso, ó rei Agripa, näo fui desobediente à visäo celestial.
20 Antes anunciei primeiramente aos que estäo em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento.
21 Por causa disto os judeus lançaram mäo de mim no templo, e procuraram matar-me.
22 Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, näo dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer,
23 Isto é, que o Cristo devia padecer, e sendo o primeiro da ressurreiçäo dentre os mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios.
24 E, dizendo ele isto em sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar.
25 Mas ele disse: Näo deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de verdade e de um säo juízo.
26 Porque o rei, diante de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois näo creio que nada disto lhe é oculto; porque isto näo se fez em qualquer canto.
27 Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês.
28 E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristäo!
29 E disse Paulo: Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, näo somente tu, mas também todos quantos hoje me estäo ouvindo, se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias.
30 E, dizendo ele isto, levantou-se o rei, o presidente, e Berenice, e os que com eles estavam assentados.
31 E, apartando-se dali falavam uns com os outros, dizendo: Este homem nada fez digno de morte ou de prisöes.
32 E Agripa disse a Festo: Bem podia soltar-se este homem, se näo houvera apelado para César.


Capitulo 27

1 E, como se determinou que havíamos de navegar para a Itália, entregaram Paulo, e alguns outros presos, a um centuriäo por nome Júlio, da coorte augusta.
2 E, embarcando nós em um navio adramitino, partimos navegando pelos lugares da costa da Asia, estando conosco Aristarco, macedónio, de Tessalónica.
3 E chegamos no dia seguinte a Sidom, e Júlio, tratando Paulo humanamente, lhe permitiu ir ver os amigos, para que cuidassem dele.
4 E, partindo dali, fomos navegando abaixo de Chipre, porque os ventos eram contrários.
5 E, tendo atravessado o mar, ao longo da Cilícia e Panfília, chegamos a Mirra, na Lícia.
6 E, achando ali o centuriäo um navio de Alexandria, que navegava para a Itália, nos fez embarcar nele.
7 E, como por muitos dias navegássemos vagarosamente, havendo chegado apenas defronte de Cnido, näo nos permitindo o vento ir mais adiante, navegamos abaixo de Creta, junto de Salmone.
8 E, costeando-a dificilmente, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, perto do qual estava a cidade de Laséia.
9 E, passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegaçäo, pois, também o jejum já tinha passado, Paulo os admoestava,
10 Dizendo-lhes: Senhores, vejo que a navegaçäo há de ser incómoda, e com muito dano, näo só para o navio e carga, mas também para as nossas vidas.
11 Mas o centuriäo cria mais no piloto e no mestre, do que no que dizia Paulo.
12 E, como aquele porto näo era cómodo para invernar, os mais deles foram de parecer que se partisse dali para ver se podiam chegar a Fenice, que é um porto de Creta que olha para o lado do vento da Africa e do Coro, e invernar ali.
13 E, soprando o sul brandamente, lhes pareceu terem já o que desejavam e, fazendo-se de vela, foram de muito perto costeando Creta.
14 Mas näo muito depois deu nela um pé de vento, chamado Euro-aquiläo.
15 E, sendo o navio arrebatado, e näo podendo navegar contra o vento, dando de mäo a tudo, nos deixamos ir à toa.
16 E, correndo abaixo de uma pequena ilha chamada Clauda, apenas pudemos ganhar o batel.
17 E, levado este para cima, usaram de todos os meios, cingindo o navio; e, temendo darem à costa na Sirte, amainadas as velas, assim foram à toa.
18 E, andando nós agitados por uma veemente tempestade, no dia seguinte aliviaram o navio.
19 E ao terceiro dia nós mesmos, com as nossas próprias mäos, lançamos ao mar a armaçäo do navio.
20 E, näo aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma näo pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.
21 E, havendo já muito que näo se comia, entäo Paulo, pondo-se em pé no meio deles, disse: Fora, na verdade, razoável, ó senhores, ter-me ouvido a mim e näo partir de Creta, e assim evitariam este incómodo e esta perda.
22 Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ánimo, porque näo se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio.
23 Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo,
24 Dizendo: Paulo, näo temas; importa que sejas apresentado a César, e eis que Deus te deu todos quantos navegam contigo.
25 Portanto, ó senhores, tende bom ánimo; porque creio em Deus, que há de acontecer assim como a mim me foi dito.
26 E, contudo, necessário irmos dar numa ilha.
27 E, quando chegou a décima quarta noite, sendo impelidos de um e outro lado no mar Adriático, lá pela meia-noite suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra.
28 E, lançando o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças.
29 E, temendo ir dar em alguns rochedos, lançaram da popa quatro áncoras, desejando que viesse o dia.
30 Procurando, porém, os marinheiros fugir do navio, e tendo já deitado o batel ao mar, como que querendo lançar as áncoras pela proa,
31 Disse Paulo ao centuriäo e aos soldados: Se estes näo ficarem no navio, näo podereis salvar-vos.
32 Entäo os soldados cortaram os cabos do batel, e o deixaram cair.
33 E, entretanto que o dia vinha, Paulo exortava a todos a que comessem alguma coisa, dizendo: É já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis sem comer, näo havendo provado nada.
34 Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós.
35 E, havendo dito isto, tomando o päo, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer.
36 E, tendo já todos bom ánimo, puseram-se também a comer.
37 E éramos ao todo, no navio, duzentas e setenta e seis almas.
38 E, refeitos com a comida, aliviaram o navio, lançando o trigo ao mar.
39 E, sendo já dia, näo conheceram a terra; enxergaram, porém, uma enseada que tinha praia, e consultaram-se sobre se deveriam encalhar nela o navio.
40 E, levantando as áncoras, deixaram-no ir ao mar, largando também as amarras do leme; e, alçando a vela maior ao vento, dirigiram-se para a praia.
41 Dando, porém, num lugar de dois mares, encalharam ali o navio; e, fixa a proa, ficou imóvel, mas a popa abria-se com a força das ondas.
42 Entäo a idéia dos soldados foi que matassem os presos para que nenhum fugisse, escapando a nado.
43 Mas o centuriäo, querendo salvar a Paulo, lhes estorvou este intento; e mandou que os que pudessem nadar se lançassem primeiro ao mar, e se salvassem em terra;
44 E os demais, uns em tábuas e outros em coisas do navio. E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo.


Capitulo 28

1 E, havendo escapado, entäo souberam que a ilha se chamava Malta.
2 E os bárbaros usaram conosco de näo pouca humanidade; porque, acendendo uma grande fogueira, nos recolheram a todos por causa da chuva que caía, e por causa do frio.
3 E, havendo Paulo ajuntado uma quantidade de vides, e pondo-as no fogo, uma víbora, fugindo do calor, lhe acometeu a mäo.
4 E os bárbaros, vendo-lhe a víbora pendurada na mäo, diziam uns aos outros: Certamente este homem é homicida, visto como, escapando do mar, a justiça näo o deixa viver.
5 Mas, sacudindo ele a víbora no fogo, näo sofreu nenhum mal.
6 E eles esperavam que viesse a inchar ou a cair morto de repente; mas tendo esperado já muito, e vendo que nenhum incómodo lhe sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus.
7 E ali, próximo daquele lugar, havia umas herdades que pertenciam ao principal da ilha, por nome Públio, o qual nos recebeu e hospedou benignamente por três dias.
8 E aconteceu estar de cama enfermo de febre e disenteria o pai de Públio, que Paulo foi ver, e, havendo orado, pós as mäos sobre ele, e o curou.
9 Feito, pois, isto, vieram também ter com ele os demais que na ilha tinham enfermidades, e sararam.
10 Os quais nos distinguiram também com muitas honras; e, havendo de navegar, nos proveram das coisas necessárias.
11 E três meses depois partimos num navio de Alexandria que invernara na ilha, o qual tinha por insígnia Castor e Pólux.
12 E, chegando a Siracusa, ficamos ali três dias.
13 De onde, indo costeando, viemos a Régio; e soprando, um dia depois, um vento do sul, chegamos no segundo dia a Potéoli.
14 Onde, achando alguns irmäos, nos rogaram que por sete dias ficássemos com eles; e depois nos dirigimos a Roma.
15 E de lá, ouvindo os irmäos novas de nós, nos saíram ao encontro à Praça de Apio e às Três Vendas, e Paulo, vendo-os, deu graças a Deus e tomou ánimo.
16 E, logo que chegamos a Roma, o centuriäo entregou os presos ao capitäo da guarda; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado que o guardava.
17 E aconteceu que, três dias depois, Paulo convocou os principais dos judeus e, juntos eles, lhes disse: Homens irmäos, näo havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim contudo preso desde Jerusalém, entregue nas mäos dos romanos;
18 Os quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por näo haver em mim crime algum de morte.
19 Mas, opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César, näo tendo, contudo, de que acusar a minha naçäo.
20 Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou com esta cadeia.
21 Entäo eles lhe disseram: Nós näo recebemos acerca de ti carta alguma da Judéia, nem veio aqui algum dos irmäos, que nos anunciasse ou dissesse de ti mal algum.
22 No entanto bem quiséramos ouvir de ti o que sentes; porque, quanto a esta seita, notório nos é que em toda a parte se fala contra ela.
23 E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhä até à tarde.
24 E alguns criam no que se dizia; mas outros näo criam.
25 E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías,
26 Dizendo: Vai a este povo, e dize: De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; E, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis.
27 Porquanto o coraçäo deste povo está endurecido, E com os ouvidos ouviram pesadamente, E fecharam os olhos, Para que nunca com os olhos vejam, Nem com os ouvidos ouçam, Nem do coraçäo entendam, E se convertam, E eu os cure.
28 Seja-vos, pois, notório que esta salvaçäo de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouviräo.
29 E, havendo ele dito estas palavras, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
30 E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitaçäo que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo;
31 Pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum.